Quem serão vocês que aí estão, que vão lendo o que escrevo, em silêncio, mas que as estatísticas me dizem que existem?
Nota: Há uma caixa de comentários... :-) Ontem, num blog de entre as larguíssimas dezenas que tento acompanhar, o seu autor, dizia com aparente satisfação, que uma sua leitora apreciava os seus desenhos, muitas vezes acompanhados por “textos enxutos”. Bolas! Se aqui alguém me lê, espero que nunca sinta os meus textos assim enxutos.
Enxuto, soa-me a bonitinho e ligeiramente inócuo, todo bem arranjadinho em manhã de domingo. Para isso, prefiro que os meus textos sejam encharcados, uma verdadeira tempestade. Ontem, num autocarro, viajou comigo um duende.A lenda diz que para enganar os homens, ele fabrica uma substância parecida com ouro, que desaparece algum tempo depois. Cuidado Gaspar, que as contas podem estar mal...
Viu-me no pátio, como já tinha visto outros 2 pais segundos antes, e (é óbvio que tem uma irritaçãozinha comigo) diz primeiro para o ar: “Ai mas os pais não podem entrar aqui, quem é que está a deixar entrar os pais?”. Como a ignorei completamente, apesar de estarmos a menos de 10 metros, não resistiu e dirigiu-se directamente a mim: “Óh pai, o pai não pode estar aqui”. Apeteceu-me mais uma vez esclarecer que não é minha filha, pelo que tratar-me por pai, me incomoda.
Naturalmente adoraria que me irritasse, que a tratasse mal para se poder queixar. Mas não. Educadamente e com uma calma por certo irritante, esclareci-a de que tinha sido informado que até ao final desta primeira semana, os pais poderiam entrar com os filhos na escola. E ainda acrescentei, que não se preocupasse porque só tinha decidido entrar hoje, e que não estragaria nada. Como seria de esperar de qualquer pessoa falsa, cínica, recalcada, veio a habitual frase idiota “Ah, então foi porque não me informaram. Óh pai, o pai não leve a mal”. Sorri para ela e descansei-a “Não, claro que não levo”. Não levo a mal, acho um nojo estas invenções de pequeninas normas, para exercer pequeninos poderes. Sem podermos escolher, nascem.
Crescem algum tempo sem poder fazer muitas escolhas. Chega normalmente um momento em que já lhes é permitido escolher ter "autonomia financeira". Após isso, todas as escolhas lhes são permitidas! E então escolhem arranjar casa, escolhem o conteúdo desta. Depois escolhem ter electricidade, àgua canalizada, gas, telefone, televisão por cabo, internet. Muitos escolhem a casa longe, para a sua "autonomia financeira" não ser posta em causa. Com essa escolha, surge, naturalmente, a escolha de um veículo que lhes permita deslocarem-se, especialmente para o emprego que escolheram para lhes proporcionar a tão desejada "autonomia financeira". Algures neste percurso, sempre após o marco da "autonomia financeira", muitos escolhem ter filhos que irão crescer sem poder fazer grandes escolhas. De repente, tantas escolhas, livremente tomadas, dão-lhes uma estranha sensação de aprisionamento. Aparece a imagem de uma mudança de vida, o campo, a praia, enfim, a natureza, aquilo que sobraria se fosse possível retirar da Terra tudo o que passaram a vida a produzir para possuir e que afinal até não necessitam. Pensam em largar tudo, vender, oferecer e escolher mudar de vida. Voltam a pensar. Entusiasmados com a perspectiva da mudança, escolhem. A escolha é manterem-se na mesma vida, por causa dos compromissos das escolhas anteriores. claro, para manter a "autonomia financeira"... Hoje foi feijoada, já foi à Lagareiro, pode ser arroz do dito, mas seja como for, o polvo aqui, vai passar a ser conhecido por oxilar. O novo acordo ortográfico que se cuide. Estamos aí para mudar mais.
Phalemos, escrevamos e xamemos komo quisermos, e que se phoda a língua. E vivam os oxilares! |